A Evolução do Homo Sapiens
Terminei recentemente de ler “Sapiens – Uma breve história da Humanidade”, um livro fascinante escrito por Yuval Harari.
Dois conceitos elaborados no livro me marcaram mais intensamente:
- O que determinou a supremacia da espécie humana no reino animal foi a capacidade de colaboração consciente em larga escala, desde os primeiros grupos tribais até as grandes corporações de hoje, com centenas de milhares de colaboradores, e as nações, com milhões de habitantes. As abelhas e as formigas também são capazes de colaborar em larga escala, mas esse não parece ser um comportamento consciente.
- A evolução das sociedades humanas foi marcada pelo repetido surgimento e subsequente dissolução de mitos.
O que mais me impressionou no livro foi o desdobramento do segundo conceito acima, em que o autor mostra, retrospectivamente, os vários mitos que prevaleceram ao longo da história e como eles foram sendo dissolvidos com a evolução do Homo Sapiens.
Com relação aos antigos mitos, tudo bem; a explanação flui tranquilamente, de uma forma lógica e facilmente assimilável. Mas quando o autor começa a analisar os tempos modernos e projetar o mesmo processo evolutivo para o futuro, é aí que o cenário fica surpreendente e intrigante.
Alguns exemplos:
Na antiguidade não havia dinheiro. Depois ele foi inventado como meio de troca e havia um valor intrínseco do dinheiro (moedas de ouro ou prata, por exemplo). Depois surgiu o dinheiro escritural; e a correspondência entre o valor declarado do dinheiro e o seu valor real desapareceu.
O valor do dinheiro passou a ser definido pelo que as pessoas “acreditam” que ele vale. O dinheiro é, portanto, um mito, uma crença coletiva, que prevalece até hoje, após várias modificações. O mito do dinheiro vai durar enquanto acreditarmos nele.
Na antiguidade, pensou-se que a Terra era plana. Esse mito era tido como realidade evidente. Por mais que se caminhasse sobre a Terra, o que se via era sempre mais extensões planas.
O mito da Terra plana caiu com as viagens de circunavegação. O novo mito passou a ser o da Terra esférica, como centro do universo. Esse mito era tido como uma verdade evidente, pois todos podiam ver o sol, a lua e as estrelas “girando ao redor da Terra”. Esse mito também caiu. E isso não nos surpreende mais, na nossa perspectiva atual.
Agora vamos aos mitos atuais …
Os seres (Sapiens? Humanos? …) de daqui a centenas, ou milhares de anos poderão dizer: “Um dos mitos prevalecentes entre os ingênuos Sapiens do ano 2020 era de que “a morte era uma fatalidade inevitável”. Eles não concebiam a ideia de que a vida do corpo físico pudesse ser estendida indefinidamente.
No entanto, já há evidências científicas, hoje, de que a imortalidade física poderá ser atingida em futuro não muito distante (há exemplos no livro de progressos nessa direção).
Outro mito questionado é o da individualidade. Consideramo-nos seres individuais, vivendo em comunidades. Mas o que vai acontecer quando tivermos nossos cérebros conectados em rede?
Hoje fala-se da “Internet de Coisas”. Por que não acreditar também numa “Internet de Mentes”?
Já existem próteses de mão e de braço conectadas ao cérebro ou ao sistema nervoso central do paciente para que este consiga movimentar a prótese apenas com os impulsos elétricos gerados pelo cérebro, apenas com o pensamento, com a simples intenção de fazê-lo, tal como fazemos com nossas mãos e braços biológicos originais.
Então, por que não acreditar na “Internet de Mentes”, onde nossos cérebros estarão todos conectados em uma rede global? Nosso conhecimento, nossas sensações, nossos pensamentos (e, por que não os sentimentos?) estarão todos interligados em “tempo real” numa base de dados coletiva, situada na “nuvem” de um provedor global de serviços de rede? Se/quando isso acontecer, o que acontecerá com o nosso atual sentimento de “individualidade”? Será mais um “mito” a desaparecer?
Essas foram as ideias apresentadas no livro que mais me “chacoalharam”. Muita coisa para pensar e filosofar a respeito!
Gustavo Monteiro
Dez/2018