Pensamentos, sentimentos, atitudes e crenças (conscientes ou inconscientes) criam formas, tais como obstáculos e sulcos, em nossos corpos sutis. Estas formas direcionam o fluxo de nossa energia emocional, influenciando, assim, o modo como nos sentimos e, eventualmente, nos comportamos.
Quanto mais forte o sentimento ou crença, mais intensa é a forma criada e sua correspondente influência. Formas derivadas da verdade são permanentes. As derivadas de ilusões podem e devem ser dissipadas. Elas só irão durar enquanto persistirem os sentimentos ou crenças correspondentes, quer estejamos conscientes destes ou não. Quanto mais inconsciente for um sentimento ou crença, mais difícil será dissipar as formas por eles criadas, uma vez que só se pode agir sobre os sentimentos e crenças expostos ao nível de consciência.
Se você não consegue abrir mão da sua própria vontade, se você não pode aceitar que a vida e as pessoas sejam diferentes de como você acha que elas deveriam ser, então você sente e acredita que tudo o que acontece diferentemente da sua vontade significa perigo para você. Você tende a ver ameaças terríveis onde nenhuma realmente existe. Isto é o que cria a sensação de estar em (ou na beira de) um abismo.
Este sentimento não se aplica a todas as situações, a toda a sua personalidade, ou a todas as áreas de sua vida, mas pode estar sorrateiramente entrincheirado em algumas áreas.
Há um abismo ilusório dentro de cada um de nós. Embora seja ilusório, enquanto não nos dermos conta de que é ilusório, ele nos afetará como se fosse real. Só quando nos damos conta de que o que tanto temíamos não pode nos causar qualquer dano real é que podemos ver o abismo desaparecer.
O que os outros fazem não pode nos fazer mal, a não ser que estejamos em ressonância com os seus erros. Manifestações oriundas do eu real (o eu superior) de uma pessoa serão positivas e irão afetar positivamente os outros. Manifestações de camadas inferiores da personalidade serão impuras, mas só poderão afetar as camadas correspondentes daqueles que entrarem em ressonância com a negatividade daquele nível..
A criança imatura espera que a vida seja exatamente como ela quer, do modo como ela quer e quando ela quer. A criança quer absoluta liberdade de escolhas e decisões, sem a responsabilidade pelas consequências. Esta forma utópica de perceber a vida pode permanecer subconscientemente na vida adulta, entorpecendo o compromisso com a auto-responsabilidade.
Quando esta liberdade esperada não é possível na vida cotidiana, sentimo-nos ameaçados e inseguros, como na beira de um abismo terrível. O abismo só pode desaparecer se você se deixar cair nele e perceber que você não se espatifa nem morre como temia, mas sim que você flutua em segurança, livre de qualquer abismo. Se honestamente confrontar a si mesmo, você vai perceber que o único sofrimento eventualmente presente nesta situação será devido à frustração das suas próprias expectativas imaturas e irrealistas sobre a vida.
É importante que você encontre em si mesmo a parte em que você deseja liberdade total, sem responsabilidade. Este desejo imaturo é muitas vezes inconsciente e precisa ser abordado de uma forma que varia de acordo com cada indivíduo, mas o seu reconhecimento sempre exige uma grande dose de honestidade consigo mesmo.
Muitas vezes esperamos total apoio e colaboração de nossos companheiros humanos, a quem queremos poder culpar se as coisas derem errado; da mesma forma como podemos, imatura e inconscientemente, pensar e sentir a respeito de Deus.
Esta maneira de ver a vida muitas vezes é transferida para a vida adulta como um conceito imaturo de Deus, uma entidade benigna acima de nós, que irá dirigir as nossas vidas como nós queremos, e que assumirá a responsabilidade por quaisquer resultados adversos.
Na medida em que transferimos a responsabilidade pela nossa vida para os outros (Deus incluído) estamos cerceando nossa liberdade. A mesma lei atua mesmo no reino animal. Um animal de estimação não tem liberdade, mas não é responsável por obter a sua própria comida e abrigo. Um animal selvagem é livre, mas é responsável por cuidar de si mesmo. Este princípio deve se aplicar ainda mais para a humanidade.
Abrir mão do mundo da Utopia (absoluta liberdade, sem responsabilidade) parece um abismo. Abandonar a ilusão e assumir completamente a responsabilidade parece tão difícil que o medo disso se torna uma boa parte do abismo. Você pensa que vai cair direto no abismo se realmente assumir a responsabilidade. Por isso você insistentemente foge dessa responsabilidade, luta contra ela, e isso consome energia.
Quando não aceitamos nossas deficiências em uma determinada área, temos medo de cometer erros nessa área. Por isso não queremos aceitar a responsabilidade de fazer qualquer coisa nessa área. Isso seria um sinal de que ainda estamos vinculados ao estado de Utopia nessa área. Assim sendo, teremos medo do abismo nessa área.
A única maneira de descobrir a natureza ilusória desse abismo e o medo que ele causa, é primeiro visualizar, sentir e experimentar a existência dele em você, nas várias manifestações e reações de sua vida diária, e depois saltar para o abismo, assumindo plena responsabilidade por sua própria vida. De outra forma, o abismo não será dissolvido.
Janeiro 2015
__________________________________________
Este artigo baseia-se na Palestra de Pathwork # 60. Você poderá ler a palestra na íntegra seguindo o link fornecido (utilize a senha path-2010 para abrir o documento).