O progresso em nosso desenvolvimento espiritual pode não ser facilmente percebido. Podemos ser enganados por avanços evidentes que não são realmente assim, enquanto interpretamos o progresso real como algo negativo.
Reconhecer nossas falhas pode parecer desapontador, quando, na verdade, é um significativo passo para a frente na nossa evolução. Nossa mente racional pode fazer com que um recém-adquirido conhecimento intelectual pareça um progresso espiritual, quando na verdade isso não quer dizer muita coisa nesse sentido.
À medida em que a personalidade evolui, ela cria várias camadas de consciência para ajudar a ajustar e lidar com o seu ambiente. Exemplos de tais camadas são o ego, a máscara e o eu-observador. A consciência geral de um indivíduo reflete a soma total de suas camadas psíquicas.
Progresso espiritual real ocorre quando há progresso na unificação destas várias camadas, fazendo com que se fundam em uma unidade, que é então ativada e movida pelo núcleo divino. Em diferentes estágios do desenvolvimento, a consciência está focada em uma camada psíquica diferente e o indivíduo se identifica com essa camada, mantendo a consciência das camadas inferiores como aspectos coexistentes de sua personalidade. Estes diferentes aspectos podem frequentemente entrar em contradição uns com os outros.
Autorrealização significa trazer para a frente, como uma realidade viva, o núcleo do seu ser espiritual – o núcleo do eu que é eterno. O eu se torna ao mesmo tempo intensamente pessoal e universal. O que parecia ser contradições, de repente se unifica sem violação da lógica. O medo desaparece; e a vida se torna um prazer inesgotável, simplesmente porque o seu oposto não é mais temido.
Em um certo ponto da existência da humanidade, a consciência humana se separou do seu núcleo divino. Ideias errôneas, reações e sentimentos destrutivos, cegueira espiritual, infelicidade e sofrimento causaram sucessivos distanciamentos dos seres humanos do seu núcleo divino, criando novas camadas de consciência, cada uma cobrindo a anterior e, assim, engrossando a parede ao redor do núcleo.
Ao invés de ser alimentada pelo núcleo, cada camada de consciência recém separada funcionava por si só, alimentada pelo próprio erro que provocou a criação dessa nova camada em primeiro lugar. Isso levou a um comportamento egoísta e agressivo.
Mais tarde, os seres humanos aprenderam que atuar a sua destrutividade os colocava em conflito com o seu ambiente, produzindo mais dor. Assim, uma consciência social foi desenvolvida a partir do instinto de autopreservação. Mas esta era inicialmente uma negação da dor e da violência, ódio e malícia induzidas pela dor.
Na medida em que negamos os sentimentos negativos, os positivos resultaram também bloqueados. Como o ser espiritual reside no domínio dos sentimentos, isso significou o bloqueio do eu espiritual. A massa de sentimentos criativos é o divino, mesmo que temporariamente ela se manifeste de uma maneira destrutiva. Quando a razão e a vontade erguem uma barricada ao redor do reino dos sentimentos para ficar a salvo da sua criatividade negativa autoperpetuante, estão também erguendo uma barricada em torno do núcleo divino, a autoperpetuante fonte criativa positiva. No entanto, cada indivíduo deve passar por essa fase antes que a direção desse processo possa ser revertida.
O próximo passo na evolução é aprender a usar a razão para ver as relações de causa e efeito e usar a força de vontade e a autodisciplina para conter impulsos primitivos espontâneos. Quando a consciência da negatividade de tais impulsos e sentimentos se desenvolve, os últimos tendem a ser negados e reprimidos. Essa negação de sentimentos bloqueia ainda mais o contato com o ser espiritual. Isto leva ao desenvolvimento de uma consciência centrada na razão. Quanto mais os sentimentos destrutivos são negados, menos eles podem se transformar de volta para o seu estado original. Assim a consciência se estrutura baseada na razão.
Os seres humanos devem passar muitas vidas treinando a razão e a vontade. Somente quando essas faculdades estiverem suficientemente desenvolvidas é que será seguro permitir que sentimentos primitivos e destrutivos aflorem à superfície sem que nos sintamos compelidos a agir a partir deles. Durante muito tempo na história da evolução, a razão e a vontade, que são o domínio do ego, dominaram o reino dos sentimentos. Esse não foi um caminho errado. Era necessário. Mas agora, um caminho diferente deve ser tomado.
Em vez de conter os seus sentimentos, você tem que aprender a permitir que eles se tornem conscientes, que eles existam e então observá-los sem medo. Não obstante, o Eu-sentimento ainda parece ser um grande inimigo e é acusado de ser pouco confiável e até mesmo perigoso.
Usando a sua vontade e razão para uma autoconfrontação honesta e humilde, você pode seguramente permitir-se sentir o que você sente, sem ter de agir a partir do sentimento. Mas é preciso ter cuidado para não cair na armadilha do uso excessivo da razão para teorizar e explicar logicamente o que está acontecendo na psique. Isso impediria a verdadeira dor e sentimento subjacente de serem experimentados. A superestrutura de explicações lógicas e teorias deve ser dissolvida para que a verdadeira dor e os sentimentos possam ser experimentados.
É preciso se esforçar para conhecer, experimentar e sentir os sentimentos autênticos, sem bloqueá-los por suspeita de irracionalidade ou tentar manipulá-los e encaixá-los em um caso lógico. Deixe sua mente ser passiva e gentilmente, gentilmente deixe seu sentimento chegar – seja ele qual for. Quanto mais calmo e relaxado você estiver, ouvindo atentamente o seu sentimento, mais ele será o sentimento original, e não aquele que o encobre. Aprenda a reconhecer a diferença sutil, mas enorme, entre sentimentos autênticos e emoções desonestamente fabricadas.