Por que O Mágico de Oz encanta tanta gente?

O Mágico de Oz é um conto tão bem sucedido que permanece até hoje como uma estória clássica e extremamente popular. Escrito por Lyman Frank Baum e publicado pela primeira vez em maio de 1900, esse romance infantil  tem inspirado muitos filmes, shows, programas de TV, livros, jogos de vídeo e shows musicais em todo o mundo, tanto para o público infantil como adulto. O que deu origem a tanto interesse e aceitação?

Acho que a razão para isso é que as pessoas se veem na história; elas se identificam com um ou mais dos personagens da trama.

Todos nascemos com uma genuína necessidade de amor, aceitação e reconhecimento. Quando crianças de tenra idade, temos expectativas muito altas de ter essas necessidades plenamente satisfeitas. Geralmente isso não acontece como esperado e, como decorrência, a criança adota conclusões e estratégias imaturas para lidar com a frustração resultante. Essas conclusões infantis condicionam o comportamento da criança; e quando não produzem o efeito desejado, mesmo quando  um pouco modificadas, acabam sendo expulsas do nível da consciência e enterradas no inconsciente. De lá, elas não intrigam nem confundem mais a mente consciente; mas continuam condicionando, sub-repticiamente, os sentimentos e o comportamento do indivíduo em crescimento, até mesmo na vida adulta.

Algumas dessas conclusões infantis típicas são: “Eu não sou digno de amor, mas se eu agradar a todos, talvez eu seja redimido e amado.” “Se eu fechar o meu coração, não vou sentir a dor de não ser amado.” “Eu não sou amado porque faço tudo errado; eu sou ‘burro’; e é por isso que as pessoas não me amam; se pelo menos eu fosse mais esperto… “

Estas crenças estereotipadas e imaturas são muito comuns, tanto nas pessoas reais como nos personagens de O Mágico de Oz.

O leão, embora devesse ser o mais poderoso e valente dos animais, não tem coragem. Ele tenta fingir e intimidar as pessoas, na vã tentativa de esconder seu medo e insegurança. Quando confrontado, ele se amedronta e assume uma atitude submissa, que não se coaduna com a sua natureza de rei dos animais. Ele anseia pela coragem de ser um verdadeiro leão.

O homem de lata acha que não tem coração, porque não tem sentimentos; ele os suprimiu completamente, como uma pseudo defesa contra a dolorosa indiferença dos outros.

O espantalho acredita que é “burro”; que não tem cérebro; e por isso não é amado.

Dorothy parece simbolizar o ego da personalidade representada pelo quarteto; ela é a parte racional, que decide como agir. Ela também pode representar a alma do grupo. Dorothy tem saudades de casa e anseia por voltar para lá, assim como nossas almas anseiam pela reconexão com o Divino.

Acredito que a maioria das pessoas tem uma ressonância com a história do Mágico de Oz por causa da estreita relação existente entre algumas das nossas crenças mais íntimas e arraigadas (que nos esforçamos tanto para transformar) e os sentimentos dos personagens do Mágico de Oz. Este sentimento de identificação está na raiz do sucesso e popularidade duradouros desse conto maravilhoso.

Gustavo Monteiro

Março, 2014